As empresas brasileiras estão fazendo recompras de ações ao ritmo mais rápido em quase duas décadas, conforme as elevadas taxas de juros dificultam as perspectivas para a renda variável doméstica.
A B3, o BTG Pactual, a Cosan e a Ambev estão entre as empresas que anunciaram recentemente que estavam adquirindo ações no mercado.
Um cenário sombrio para o mercado de ações local, em meio ao aumento da Selic e às crescentes dúvidas sobre as perspectivas para as contas públicas, tem pesado sobre os papéis, que estão sendo negociados com um desconto de cerca de 20% em relação aos níveis históricos. O Ibovespa cai quase 10% no acumulado do ano, um dos piores desempenhos entre os principais índices acionários globais.
“As empresas podem fazer melhor uso do capital investindo na recompra, ao invés de expansões, que envolvem riscos de execução, financiamento”, diz Tiago Cunha, gestor de ações na ACE Capital.
A falta de clareza sobre as políticas econômicas do governo, como as mudanças tributárias, também tornou o investimento menos atraente para as empresas, incentivando ainda mais outros usos para o capital.
Dados do Itaú BBA estimam que os programas de recompra “em aberto”, que incluem aqueles anunciados em anos anteriores, totalizam cerca de R$ 78 bilhões.
“O aumento da quantidade de ‘buybacks’ na bolsa brasileira reflete uma condição de ‘valuation’ atraente dos ativos listados”, diz Daniel Gewehr, chefe de pesquisa de ações do Itaú BBA. “A falta de visibilidade macroeconômica, com juros altos, tem postergado projetos de investimento mais de longo prazo, o que tem contribuído para esse aumento de recompras e dividendos no curto e médio prazo.”
Em nota, a B3 disse que “uma distorção” no preço das ações da companhia levou à decisão de recomprar os papéis, distribuindo lucros aos acionistas.
A incerteza em torno das mudanças tributárias levou a uma corrida de empresas e investidores para retirar recursos do país, de acordo com uma autoridade do governo que pediu para não ser identificada porque a informação é privada.
As saídas afetaram o câmbio, que disparou neste mês antes de o Banco Central intervir com leilões para conter a alta. Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária percebeu uma saída atípica de dólares recentemente e acrescentou que os pagamentos de dividendos estavam acima da média.
Petrobras, Marfrig e Ambev são algumas das empresas com pagamentos de dividendos nos últimos dias de 2024, segundo dados compilados pela Bloomberg.