Pela primeira vez, o rim de um porco geneticamente modificado foi transplantado em um paciente humano e vivo. O feito foi liderado pelo médico brasileiro Leonardo Riella, que atua em um hospital em Boston, nos Estados Unidos.
Natural de Curitiba, o médico se formou na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2003, mas trilhou carreira internacional. (Veja mais abaixo.)
O anúncio do sucesso do xenotransplante, como é chamada a implantação de órgãos entre espécies diferentes, foi feito nesta quinta-feira (21). Durante a apresentação, Riella veio às lágrimas comemorando o sucesso do feito da equipe.
Após se formar no Paraná, Riella fez a sua residência em medicina interna e nefrologia na Universidade de Harvard, onde participou de 2004 a 2011 de um programa combinado entre dois hospitais de ponta: Brigham and Women’s Hospital e o Massachusetts General Hospital (MGH). Riella obteve ainda um doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em imunologia de transplante.
Atualmente, ele é professor associado e diretor de transplante de rim do MGH, o maior hospital-escola da Faculdade de Medicina de Harvard, e lidera a prestigiosa cadeira acadêmica em transplante Harold and Ellen Danser Endowed Chair in Transplantation.
Além disso, ele é investigador sênior do Center for Transplantation Science.
Riella está envolvido em diversas pesquisas científicas focadas, principalmente, na compreensão dos mecanismos de regulação imunológica e no desenvolvimento de terapias para promover a tolerância dos órgãos transplantados.
O médico é ainda líder do consórcio TANGO, que investiga a recorrência da doença glomerular – que afeta os glomérulos, que são pequenos vasos sanguíneos responsáveis por filtrar o sangue nos rins – no processo pós-transplante.
Ele está à frente também do estudo GENIE, que investiga a interferência da dieta em pacientes com síndrome nefrótica.
Riella comandou a equipe do transplante inédito que implantou um rim suíno em um paciente vivo. A cirurgia é resultado de uma pesquisa de pelo menos quatro anos.
O xenotransplante de porco para humano é estudado há décadas pela semelhança entre os órgãos dos animais e das pessoas. No entanto, o maior desafio era a resposta do sistema imunológico, que poderia rejeitar o tecido estranho – ponto que foi trabalhado ao longo da pesquisa. (Veja abaixo.)
No processo, foram retirados genes suínos que prejudicavam a resposta do corpo humano e foram acrescentados genes humanos. Além disso, os cientistas inativaram retrovírus endógenos suínos no doador para eliminar qualquer risco de infecção.
Nos cinco anos de pesquisa, foram feitas várias versões de modificações genéticas até encontrarem a que poderia ser implantada em humanos.
Antes disso, no entanto, os órgãos foram testados em macacos. Segundo Riella, os rins permaneceram funcionando perfeitamente por dois anos nos animais e a expectativa é a de que o prazo seja maior em humanos, que têm uma resposta ao rim suíno melhor que os macacos.
Com o resultado promissor, a equipe acionou o FDA — que é o órgão de regulação norte-americano — que aprovou a realização do procedimento.
Após a aprovação da técnica pelo FDA , os médicos receberam o rim do porco e fizeram o transplante no último sábado (16).
A cirurgia levou cerca de três horas e, segundo os médicos, o resultado tem sido positivo. O paciente ainda está internado em Boston, mas a expectativa é a de que ele tenha alta nos próximos dias porque até agora não houve manifestação de complicações.
👉 Caso a recuperação seja total, a cirurgia pode ser uma esperança para a espera angustiante pelo órgão.
A possibilidade de usar o órgão de um porco pode revolucionar a vida de milhares de pessoas que aguardam por um transplante de rim. Quem espera pelo órgão, depende de hemodiálise, na maior parte das vezes, diária. Além disso, tem restrição de líquidos, já que o corpo não consegue filtrar naturalmente.
O transplante de rim representa 92% da fila de espera pelo transplante no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, até quarta-feira (20) haviam 42 mil pessoas na fila de espera por algum órgão. Do total, 39 mil aguardam por um rim.