Em outubro de 2012, o escritor especializado em ciência David Quammen publicou, nos EUA, Spillover: Animal Infections and the Next Human Pandemic. Em determinado momento da obra, concluída após tantas milhas de viagens pelo mundo e outras pilhas de pesquisas realizadas, o autor levanta a provável hipótese de que a próxima pandemia, resultado do “pulo” e da adaptação de um micróbio que antes vivia entre animais para o ser humano — algo tecnicamente chamado de spillover —, seria protagonizada, se não por um vírus mutante da gripe, por algum patógeno vindo de morcegos no sudeste da Ásia (possivelmente coronavírus, como os responsáveis pelo surto de Sars em 2002).
Não era uma profecia. Era uma previsão baseada em inúmeros estudos e entrevistas com cientistas. Uma nova peste global seria questão de “quando”, não de “se”, cravou o escritor do livro, que seria traduzido como Contágio (Companhia das Letras – clique para comprar) no Brasil em 2020.
Oito anos depois da publicação original, assistimos atônitos à eclosão da Covid-19 — um coronavírus de origem asiática que, em algum momento, “pulou” de um morcego e aprendeu a ser transmitido de humano para humano. O resto é história.
Vez ou outra, pesquisadores e autoridades sanitárias soam o aviso de que há perigo no horizonte — quando não na esquina. No último congresso brasileiro de infectologia, que cobri em Salvador em setembro de 2023, os médicos falavam que enfrentaríamos uma crise com a dengue. A realidade atual não desmente a predição.
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