Os preços do cacau superaram recentemente um recorde estabelecido há quase meio século, elevando custos para fabricantes de chocolate, confeiteiros e aficionados. A rápida escalada no preço da amêndoa começou com o mau tempo na África Ocidental, onde grande parte do cacau do mundo é cultivado. Especuladores migraram de outras commodities para o cacau e adicionaram combustível ao rali.
Os futuros do cacau subiram mais US$ 613 por tonelada, na sexta-feira (15), para encerrar a semana em US$ 8.018 em Nova York. Isso é mais que o triplo do preço de um ano atrás e está 42% acima do recorde anterior, estabelecido em julho de 1977 durante outro período de condições desfavoráveis na África Ocidental.
Assim como fizeram no fim da década de 1970, confeiteiros e grandes empresas de alimentos estão aumentando preços, ajustando receitas e encolhendo produtos. “Seguimos comprometidos com nossa estratégia de longo prazo de elevar preços para cobrir a inflação de matérias-primas”, disse a CEO da Hershey, Michele Buck. Ela alertou investidores em fevereiro que os altos preços do cacau limitariam o crescimento dos lucros da empresa neste ano.
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O analista de commodities Aakash Doshi, do Citigroup, disse esperar um “encolhimento” dos produtos e a substituição da manteiga de cacau por gorduras mais baratas pelas empresas de alimentos.
O rali do cacau começou no verão (do Hemisfério Norte), após uma safra fraca ter reduzido os estoques pelo segundo ano consecutivo. Traders começaram a se preocupar com a safra subsequente e com o fenômeno climático El Niño, que tende a reduzir os rendimentos do cacau na África Ocidental.
Fundos e outros especuladores compraram futuros da commodity, apostando que os preços subiriam, de acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC). Com isso, os preços saíram da faixa de US$ 2.000 a US$ 3.000 por tonelada, onde tinham permanecido nos últimos 15 anos.
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Os temores de traders se concretizaram quando a África Ocidental foi atingida primeiro por um clima atipicamente úmido e depois por ar quente e seco trazido do interior do deserto pelos ventos conhecidos como harmattan. Doenças nas plantas têm aumentado e muitas árvores estão produzindo menos frutos à medida que envelhecem.
A Organização Internacional do Cacau (ICCO) disse que, no início de fevereiro, perto do fim da safra principal, que as entregas de amêndoas nos portos dos principais produtores, Costa do Marfim e Gana, estavam cerca de 30% abaixo do volume do ano anterior. Segundo a ICCO, a produção global nesta temporada deve ser 11% menor do que na temporada anterior. Com expectativa de aumento de 5% na demanda, os estoques ficariam 21% mais baixos.
Muitos especuladores já realizaram lucros, mas aqueles que usam computadores para seguir as tendências de preços ainda estão no jogo, disse Dave Whitcomb, que administra a Peak Trading Research. “Alguns fundos de hedge retiraram apostas da mesa, mas outros traders ainda estão comprados e esperando preços mais altos”, disse.
Doshi, do Citigroup, disse a clientes que os preços do cacau poderiam chegar a US$ 10.000 por tonelada em negociações à vista nos próximos três meses. Para ele, os preços devem cair no segundo semestre do ano, mas não vão voltar aos níveis anteriores. “Os mercados provavelmente entraram em uma era em que a faixa de US$ 3.500 a US$ 4.000 por tonelada pode ser o novo cacau ‘barato’ nos próximos anos”, escreveu em nota a clientes. “Isso deve incentivar o plantio de novas árvores, bem como uma mudança nas vendas (de produtos como o chocolate).”
No longo prazo, há preocupações sobre onde novas árvores de cacau poderão ser plantadas, já que as empresas de alimentos estão aderindo às novas regras da União Europeia que proíbem a importação de commodities produzidas em áreas recém-desmatadas.