RESUMO
• Sob pressão das pesquisas de popularidade e eleitorais, Lula convocou ministros do agro para tentar segurar preço dos alimentos
• A culpa da alta foi imputada ao impacto das mudanças climáticas, que deve se dissipar ao longo do ano
• Solução para um corte rápido foi reviver a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que caiu em desuso no governo Bolsonaro
Para entender como inverter essa tendência, Lula convocou os e . As soluções encontradas são voltar a usar a Conab para operacionalizar compras, diversificar os produtores, facilitar o crédito e, com relação ao clima, nas palavras de Fávaro, “andar o Brasil para entender qual o problema e apresentar uma solução”.
À DINHEIRO, Teixeira afirmou que o encontro também serviu para apontar ao presidente os motivos para os preços estarem maiores desde o final do ano passado. “Esse aumento ocorreu em razão de questões climáticas. Todo mundo assistiu ao excesso, à alta temperatura no Centro-Oeste. Foi um aumento sazonal, e a tendência agora é diminuir”, disse.
Carlos Fávaro, por sua vez, deu como exemplo o plantio de arroz no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão. Em outubro do ano passado, o excesso de chuvas no estado atrasou o plantio da safra 2023/2024. Até o momento, disse ele, cerca de 10% da safra foi colhida, e com isso o saco do grão já caiu de R$ 120 para R$ 100 para o produtor. “Esperamos que, com essa baixa, os atacadistas também abaixem [o preço] na gôndola dos supermercados, que é onde as pessoas compram.”
“Esse aumento ocorreu em razão de questões climáticas. todo mundo assistiu ao excesso, à alta temperatura no Centro-Oeste. Foi um aumento sazonal, e a tendência agora é diminuir.”
Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário
Todo esse esforço tem um fundo econômico, já que a inflação menor sustenta a trajetória de queda da Selic. Na quarta-feira (20) o Comitê Política Monetária (Copom) reduziu para 10,75% a taxa básica de juros, em uma sequência de cinco quedas consecutivas e que colocou o indicador no menor patamar desde 2022.
Segundo a estimativa do mercado, nesse ritmo, a Selic deve entrar em 2025 em 9%, voltando para o dígito único de 2021. “A queda da taxa de juros é fundamental para o estimulo do agronegócio, para um ambiente mais promissor e com novas oportunidades”, disse Fávaro à DINHEIRO.
EFEITO POLÍTICO
Mas não é só a economia pesando nesse preço. Com as eleições municipais e o cacife político de Lula sendo testada nas urnas pela primeira vez desde 2022 uma trajetória de preços controlados também viria a calhar. E para isso os ministérios ligados ao agro, junto da Fazenda, do BNDES e do Planejamento estão desenhando um mecanismo para reduzir os preços de modo mais célere.
A solução apresentada foi o retorno dos contratos de opções de vendas públicas para incentivar o aumento da produção e da oferta diversificada de arroz, feijão, milho e trigo pelo país. O objetivo é reviver a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que só pode ser aplicadas em itens básicos, como os citados, e que caiu em desuso no governo Bolsonaro. Durante as gestões do PT tais compras eram recorrentes, e operacionalizadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Contratos de opção acima do preço mínimo serão lançados para que possa diversificar por todo o Centro-Oeste e Nordeste brasileiros o plantio de arroz, feijão, milho e trigo”, afirmou Fávaro. Segundo ele, a decisão resolve um impasse comum do empresário. “Isso faz com que o produtor, na dúvida entre plantar milho ou um pouquinho de arroz na segunda safra, possa diversificar na certeza que tem o governo comprando”, afirmou.
Esse mecanismo é capaz de diversificar a produção em todo o País, garantindo preços melhores. “As mudanças climáticas que são inquestionáveis e precisam ser atacadas com estratégia. Não podemos, por exemplo, ter 85% do arroz produzido do Brasil concentrado em 70% no Rio Grande do Sul e 15% em Santa Catarina, e apenas 15% em todo o restante do território nacional”, completou Fávaro.
Os contratos de opções de venda público são uma modalidade de seguro de preços que dá ao produtor rural o direito de vender seu produto para o governo, em uma data futura, a um preço previamente fixado. A ferramenta é lançada quando o mercado está abaixo ou com tendência a alcançar valor menor que o preço mínimo, e o governo tem interesse de sinalizar preço futuro para o mercado.
No ano passado, com essa política ainda muito desestruturada, o governo comprou apenas 360 mil toneladas de milho. Nos tempos de amplo funcionamento do contrato, a Conab chegou a comprar 18 milhões de toneladas em um único ano.
“Temos a expectativa de achatamento nos preços das commodities e por isso o governo trabalha para garantir que isso não nos impeça de bater um novo recorde de vendas da nossa safra”, disse Fávaro.
O gancho do achatamento, inclusive, é determinante, já que a estocagem pública só pode ser feita quando os produtos estão com cotações abaixo do preço mínimo. Uma medida que, sozinha, é capaz de alimentar o brasileiro, a economia e o capital político de Lula.
ENTREVISTA
Carlos Fávaro Ministro da Agricultura
“Essas animosidades [com o agro] não resistem ao bom trabalho, ao resultado recorde e à melhora do ambiente de negócios”
Ministro fala sobre os planos de desenvolver os pequenos produtores, estímulo aos novos mercados e o desafio para o setor ao longo de 2024 diante do achatamento dos preços e das mudanças climáticas
Como foi o relacionamento entre o ministério e o agro em 2023?
Depois das eleições nós vivíamos um clima de muita hostilidade. Não tivemos período para buscar convergência, só para trabalhar. Tivemos muita dedicação e muito apoio do presidente Lula para dar ao agronegócio o sinal de que o momento político tinha ficado para atrás. A eleição tinha acabado e o que valiam agora eram os resultados do trabalho feito junto ao setor.
E isso já foi totalmente superado?
Sim. Hoje há muito espaço para diálogo, o Plano Safra recorde e a previsão de mais três anos de novos recordes facilitam a conversa. Os 28 mercados abertos só neste ano também ajudam. Passada essa fase, o que queremos agora é percorrer o Brasil. Já mapeamos que teremos algumas dificuldades de produção, com preço de commodities achatado, com impactos do clima. Então o plano é estar mais próximo dos produtores e das entidades setoriais para minimizarmos os problemas.
Como a questão climática tem sido tratada no ministério?
Temos plena consciência das dificuldades de clima, e encaramos isso como imperativo. Além dos compromissos do Brasil com o mundo sobre proteção e manutenção do nosso meio ambiente, também tratamos o clima como um problema econômico para o setor. O aquecimento global afeta as plantações, quebra safras, prejudica operações inteiras. E aos produtores, eu repito: sabemos dos problemas e encaramos com muita seriedade.
E como vocês estão trabalhando a questão da demanda por crédito?
Estamos analisando como criar uma normatização [junto à CMN] para que os custeios dos bancos públicos cumpram as normativas do crédito rural e que os acordos sejam todos prorrogados de acordo com a necessidade de cada produtor brasileiro.
As empresas cooperativas entram nesse pacote?
Sim, e temos planos para elas também. Hoje o Brasil tem mais de 20 milhões de pessoas no cooperativismo, e queremos dar mais atenção a eles. Estamos com novas linhas de crédito, junto ao BNDES, buscamos apoio de outros bancos públicos e vamos aproveitar a melhora do ambiente de negócios para contratação de crédito vinda do marco geral das garantias.