O novo mapa-múndi, lançado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que traz o Brasil no centro da Terra, foi colocado à venda na loja do instituto e esgotou nas primeiras horas de venda. A nova projeção, que integra a 9ª edição do Atlas Geográfico Escolar, foi alvo de polêmica nas redes sociais pela mudança em relação aos modelos comumente usados nas escolas brasileiras, com a Europa no centro.
“O novo IBGE mostra o Brasil no centro do mundo”, escreveu Marcio Pochmann, presidente do IBGE, na rede social X (ex-Twitter), ao comentar sobre o projeto.
A divulgação provocou polêmica nas redes sociais, atraindo críticas e elogios dos usuários nos comentários da publicação. Isso porque a projeção cartográfica é diferente das trazidas em anos anteriores e daquelas vistas nas escolas brasileiras, em que posiciona o Brasil à esquerda do mapa.
Segundo o IBGE, a centralização no mapa-múndi lançado ocorre em consonância com o momento em que o país está presidindo o G20 — grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Africana e a União Europeia.
“É uma oportunidade de mostrar uma forma singular do país ser visto em relação a esse grupo de países e ao restante do mundo”, disse o IBGE em comunicado. O Brasil preside a Cúpula do G20 este ano. O encontro principal, que vai reunir chefes de Estado e Governo, será realizado em duas datas: 18 e 19 de novembro.
Brasil no centro do mundo
Mara Lúcia Marques, cartografa e professora da Faculdade de Geografia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), aponta que a discussão em torno da representação dos países nos mapas é um tema presente no meio acadêmico. Mais do que a questão geográfica, o debate, ressalta a docente, traz à tona a revisão histórica da cartografia.
“Os europeus, no desenvolvimento da civilização Ocidental — que era o mundo conhecido — fizeram a expansão das colônias. Então, foram mapeando [esses territórios] a partir do ponto de vista da Europa. A partir disso, os mapas, e toda a cartografia, foram desenvolvidos [com essa representação]. Como a educação era centrada no conhecimento europeu, os mapas permaneceram mostrando essa dinâmica”, explicou ao Valor.
A docente destaca que a representação varia de acordo com a perspectiva de cada país. “Existem mapas dos Estados Unidos que colocam a América [do Norte] no centro. Já a China, que tinha sua evolução histórica em paralelo no Oriente, também tinha o ponto de vista a partir do território conhecido e desenvolvido por eles. Então, os mapas são centralizados a partir do domínio territorial, do conhecimento daquelas áreas”, afirmou.
O mesmo vale para o Brasil, aponta Mara Lúcia. “Para os brasileiros, [o mapa parte do ponto de vista do Brasil], com a sua localização e a posição mundial em relação à questão geográfica. É uma discussão que reacende o debate sobre não se ver apenas de um ponto de vista. A cartografia tem a possibilidade de trazer discussões de perspectivas, de visualização do território, dependendo da sua ocupação, geopolítica, do país que está inserida”.
Além disso, justamente por conta da mudança de perspectiva, o mapa-múndi proposto pelo IBGE, quando comparado à representação clássica, pode causar estranheza por conta do espaçamento entre os continentes. A professora explica que isso é causado por conta do reposicionamento dos países e, consequentemente, dos oceanos. No novo mapa brasileiro, por exemplo, o Oceano Pacífico — o maior do planeta — ganha maior dimensão que o Atlântico, que banha a costa brasileira.
*Estagiária sob supervisão de Diogo Max