Ao longo da vida, as mulheres vivenciam alguns processos marcados por variações hormonais. Um deles é a menopausa. Para algumas, esse processo é visto como parte natural do ciclo de vida, mas, para outras, ele ocorre antes do esperado, ocasionando uma série de desafios físicos e emocionais.
De acordo com Sérgio Podgaec, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a menopausa é marcada pelo término definitivo da menstruação, geralmente manifestando-se entre os 45 e 50 anos. “A mulher possui uma reserva de óvulos e, quando essa reserva se esgota, resultando na interrupção da ovulação, a menstruação cessa. Quando esse processo acontece antes dos 40 anos, nós chamamos de menopausa precoce”, explica Podgaec.
Também conhecida como ‘insuficiência ovariana primária’, a menopausa precoce pode estar relacionada a fatores genéticos, como a síndrome de Turner, e também a doenças autoimunes, a exemplo de vitiligo, tireoidite e miastenia grave (que causa fraqueza muscular). Segundo Manuela Gurgel, ginecologista da Casa de Saúde São José, distúrbios metabólicos, incluindo alterações enzimáticas, também podem estar relacionados ao problema, assim como tratamentos considerados agressivos, como quimioterapia e radioterapia, que induzem a falência ovariana por toxinas.
A especialista ressalta ainda que a remoção cirúrgica dos ovários, responsáveis pela produção dos hormônios femininos, é outra causa significativa de menopausa precoce. É importante lembrar também que fatores comportamentais, como o tabagismo ou uso de esteroides anabolizantes, estão associados a um maior risco de desenvolver a condição.
Quais são os sintomas da menopausa precoce?
O principal sintoma observado na menopausa precoce é a alteração no padrão menstrual. Tipicamente, mulheres diagnosticadas com essa condição começam a experimentar ciclos menstruais mais espaçados e com menor quantidade de sangramento, até eventualmente chegarem à ausência completa do fluxo menstrual.
Com a interrupção da ovulação, ocorre uma diminuição na produção dos hormônios femininos, como o estrogênio. Isso leva à manifestação de sintomas característicos da deficiência hormonal e da menopausa precoce, como ondas de calor, sudorese noturna, variações de humor, distúrbios do sono e redução da densidade óssea, que pode resultar em osteoporose, além do ressecamento ou atrofia da mucosa vaginal.
Outro impacto significativo relacionado à insuficiência ovariana primária é a infertilidade. Com o fim da liberação dos óvulos, os gametas femininos ficam impedidos de encontrar os masculinos para realizar a fecundação, o que tem um impacto direto na capacidade reprodutiva da mulher. Segundo Podgaec, mesmo em casos de reprodução assistida, muitas vezes é necessário que as pacientes utilizem os óvulos de uma doadora.
“Além da infertilidade, o ressecamento vaginal e a atrofia são sintomas comuns capazes de afetar a intimidade e o bem-estar sexual. Esses problemas podem levar a uma redução na qualidade de vida e desencadear quadros de ansiedade e depressão”, enfatizou Manuela.
Como é feito o diagnóstico?
De acordo com Podgaec, o diagnóstico de menopausa precoce pode ser estabelecido clinicamente quando uma mulher com menos de 40 anos apresenta sintomas como irregularidades menstruais, ausência de menstruação ou dificuldade para engravidar.
Para confirmar essa suspeita, é fundamental realizar exames laboratoriais, que incluam a análise de três tipos de hormônios: FSH, LH e estradiol. Na menopausa precoce, os níveis de estrogênio tendem a ser baixos, enquanto os níveis de FSH, particularmente, tendem a ser elevados.
Além disso, como acrescenta Manuela, mais dosagens hormonais (de hormônios tireoidianos e prolactina, por exemplo) podem ser realizadas para descartar outras possíveis causas. “A avaliação da reserva ovariana por meio do hormônio anti-Mülleriano e, em alguns casos, o aconselhamento genético, também podem ser partes essenciais do processo diagnóstico”, descreve a especialista.
Existe tratamento?
Sim. O tratamento para a menopausa precoce segue uma abordagem semelhante àquela aplicada na menopausa comum. Quando não há contraindicação absoluta ao uso de terapia de estrogênio, recomenda-se o uso de estradiol para diminuir o risco de osteoporose, doenças cardiovasculares, atrofia vaginal e para promover a saúde sexual e a qualidade de vida da paciente. Para mulheres com útero, a adição de progesterona é necessária, segundo Podgaec.
Para pacientes com contraindicações ao uso de estrogênio, Manuela destaca que existem opções terapêuticas alternativas disponíveis atualmente. Isso pode incluir medicamentos de ação central ou até mesmo fitoterápicos em alguns casos. “É importante enfatizar que cada tratamento deve ser individualizado de acordo com as necessidades específicas da paciente, considerando suas particularidades e condições de saúde”, ressalta a médica.
Além das terapias de reposição hormonal, semelhantes às utilizadas na menopausa convencional, outras medidas devem ser consideradas, como intervenções nutricionais, prática de atividade física e, principalmente, acompanhamento terapêutico.
Como prevenir?
A médica diz que, atualmente, não existem medicações ou tratamentos específicos para prevenir a menopausa precoce. No entanto, adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física, pode contribuir para a regulação hormonal.
“É crucial destacar que evitar o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e o sedentarismo também desempenha um papel fundamental na prevenção de condições relacionadas à insuficiência ovariana”, ressalta a especialista.