O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, nesta terça-feira (27), um discurso com fortes críticas a privatizações de empresas públicas. E, citando exemplos como a Vale, a Eletrobras e a Sabesp, recentemente vendida pelo governo de São Paulo, Lula defendeu que “tem coisas que têm que ser inexoravelmente do Estado”.
“Tem coisas que têm que ser inexoravelmente do Estado. É assim na Alemanha, na França e nos Estados Unidos”, disse Lula.
“Muita gente foi levada neste país pela famosa teoria de que tem que abrir o mercado para todo mundo, que importante é o livre acesso ao comércio. Livre acesso ao comércio quando é para vender o produtor deles aqui dentro. Quando é para vender os nossos produtos lá fora, a gente sabe a dificuldade que é.”
Lula fez as afirmações em visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P) da Telebras. A empresa foi retirada, em abril do ano passado, já na atual gestão, da lista do programa de privatizações do governo.
O presidente iniciou seu discurso tratando da Petrobras, que, de acordo com ele, tem defensores de sua privatização “desde Getúlio Vargas”, que criou a empresa em 1953.
“Eu fico sempre lembrando quantas vezes tentaram privatizar a Petrobras, em vez de tratar a Petrobras como uma empresa orgulho do país”, disse. “Desde Getúlio Vargas, aparece alguém achando que tem que privatizar. E quando acham dificuldade para privatizar, eles tentam vender ativos separados. Quando você percebe, tem uma empresa desmontada.”
Lula também criticou a privatização da Eletrobras, que ele havia chamado na véspera de “crime de lesa-pátria”, e da Sabesp, concluída, neste ano, pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo.
Segundo o presidente, os empresários “só querem fazer [privatização] onde já está dando certo, onde já está dando lucro”.
“O que está certo. Empresário não tem que investir para fazer política social e de inclusão social”, disse Lula. “Da mesma forma que os Correios estão para ser privatizados desde 1985, quando Antonio Carlos Magalhães era ministro da Comunicação. No caso dos Correios e da Telebras, chegamos ao cúmulo da ignorância de que essas duas empresas não poderiam vender serviços ao Estado. Mesmo que oferecessem preço mais barato.”
Lula opinou, ainda, que a privatização da Vale dificulta a negociação de indenizações relativas à barragem de Mariana.
“A Vale, que tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente, a gente sabia quem era. Hoje nessa discussão que a gente está, de fazer um acordo para receber dinheiro de Mariana, o dinheiro que prometeram pro povo, você não tem dono. Uma tal de corporate que não tem dono, monte de gente com 2%, monte de gente com 3%”, disse Lula.
“É que nem cachorro de muito dono, morre de fome, morre de sede porque todo mundo pensa que colocou água, todo mundo pensa que deu comida e ninguém colocou.”
Procurada, a Vale disse que não comentaria as declarações do presidente.
Contra a privatização da Telebras
Para Lula, é preciso “pensar um pouco no que o Estado pode oferecer para o bem-estar da sociedade”. Assim, defendeu a manutenção da Telebras nas mãos do governo.
“Uma empresa como essa aqui é um garante que a gente pode discutir inteligência artificial sem ficar subordinado a apenas duas ou três nações, que já estão na frente”, afirmou.
O presidente previu que “a gente vai viver o momento em que a sociedade vai estar escravizada”. Isso porque “duas ou três empresas terão todas as informações do mundo e elas é que vão ditar as regras para nós”.
“Como é que um país que consegue ter uma empresa dessa qualidade [Telebras] resolve em privatizá-la? Doar para quem? Quem iria ficar com as informações que somente o Estado tem que ter?”, questionou.
“Quando nós resolvemos tirar essa empresa do rol de privatização é porque assumimos um compromisso. Um compromisso de que fazer daqui a dois anos, ela ser melhor do que é hoje. Estar prestando mais serviços do que presta hoje. E garantir coisas para o futuro para que a sociedade brasileira possa sonhar que coisas do Brasil possam prestar serviços de qualidade.”
Lula defendeu ainda que se coloque “uma pedra no passado”, quando “se pensava que as estatais não funcionavam e que solução seria abandonar todo o patrimônio construído ao longo de décadas pelo povo brasileiro”.
“Nós não só refutamos essa ideia, como queremos demonstrar aqui o quanto compensa investir em nossas empresas”, disse. “Não escolhemos o caminho mais fácil, que seria abandoná-la ou vendê-la a preço de banana.”
O presidente negou estar fazendo, com seu discurso, uma crítica à iniciativa privada. Disse que o Estado deveria trabalhar em parceria com os empresários.
“Eu não falo isso contra a iniciativa privada. Eu acho que nós deveríamos trabalhar junto com a iniciativa privada”, afirmou.