Líderes na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) reforçaram a polarização, em atos e discursos, entre os apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apoiado por Lula, Boulos marcará no sábado (23) a entrada da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), em sua pré-campanha. Marina participará de um ato para reforçar o apoio de seu partido à pré-candidatura de Boulos e de uma plenária para debater propostas para o plano de governo. O tema do debate será “Meio Ambiente e Transição Ecológica”. Rede e Psol formam uma federação.
Nas eleições de 2022, Marina e Boulos elegeram-se deputados por São Paulo. A ministra recebeu 237,5 mil votos e o pré-candidato do Psol, 1,01 milhão de votos, tornando-se o deputado mais bem votado do Estado naquela eleição.
Com a entrada de Marina Silva, a pré-campanha de Boulos tenta atrair mais intenções de votos ao parlamentar. Na avaliação das pré-campanhas e do Datafolha, parte dos eleitores pode ter confundido Marina Silva com Marina Helena, pré-candidata do Novo.
Pouco conhecida na cidade, a pré-candidata do Novo registrou 7% das intenções de voto na pesquisa mais recente do Datafolha, do início do mês. É um percentual semelhante ao registrado pela deputada e pré-candidata do PSB Tabata Amaral, com 8%. A postulante do Novo, no entanto, nega que os eleitores estejam confundindo as “Marinas”. Boulos tem 30% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e Nunes, 29% — os dois estão empatados tecnicamente.
Apoiado pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, o prefeito e pré-candidato Ricardo Nunes centrou esforços nesta semana nas críticas ao governo Lula em razão dos novos episódios de apagão na capital e do aumento dos casos de dengue. No início da semana, o prefeito disse ter enviado novo ofício ao Ministério da Saúde cobrando envio de mais doses de vacina contra a dengue.
“Estamos na maior cidade do Brasil e isso tem um peso para demonstrar que eles deram bobeira lá e poderiam ter sido mais ágeis no fornecimento da vacina não só para cidade de São Paulo, mas para todas as cidades do Brasil”, afirmou. Em entrevista coletiva na quarta-feira (20), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que doses não utilizadas serão redistribuídas para municípios que decretaram situação de emergência, caso de São Paulo.
Em outra frente, Nunes retomou as críticas à Enel e ao governo federal. Dessa vez a falta de luz atinge moradores e comerciantes na região central, em bairros como Santa Cecília, Vila Buarque e Higienópolis. Nessa quinta-feira (21), o prefeito afirmou que acionará a concessionária na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e no Tribunal de Contas da União (TCU). O prefeito já chegou a pedir o cancelamento do contrato, que vence em 2028, e mais rigor na fiscalização. Agora vai propor que municípios tenham poder de veto para concessões federais que prestem serviços no âmbito municipal.
As recorrentes falhas no serviço de fornecimento de energia aparecem entre as principais queixas dos eleitores paulistanos. Embora a maioria atribua a culpa pelos transtornos à Enel, parte da repercussão negativa recai sobre a prefeitura. Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada aponta a empresa como a principal culpada pelos transtornos na opinião de 62%. Mas para 18% a responsabilidade é da prefeitura, seguida do governo paulista (7%). Nas regiões sul e oeste a culpa do prefeito aumenta: 20% e 24%. Apenas 4% atribuem ao governo federal.
O governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoia a reeleição do prefeito da capital.
A despeito da queixa da população, a fiscalização da Enel não é uma atribuição formal da prefeitura. Esse papel cabe à União, por meio da Aneel, e, em São Paulo, é partilhado com o Estado de São Paulo, na figura da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp). No início da semana, o Ministério de Minas e Energia determinou que a Aneel apure as causas do apagão na região central da cidade.
Nas declarações recentes sobre o tema, no entanto, Nunes não mencionou a agência reguladora paulista, sob responsabilidade do governador Tarcísio de Freitas, de quem é aliado.