O câncer continua sendo um dos principais desafios de saúde pública no Brasil, com números expressivos principalmente entre as mulheres. Dados do Ministério da Saúde revelam que mais de 100 mil brasileiras recebem diagnóstico de cânceres de mama e ginecológicos todos os anos, cenário que evidencia a necessidade urgente de fortalecer estratégias para reduzir o impacto da doença no País.
De acordo com Angélica Nogueira, oncologista da Oncoclínicas e responsável pelo Programa OC Mulher, as últimas décadas foram muito positivas no controle da doença. “Houve um avanço monumental em estratégias para o controle do câncer, em prevenção primária, rastreio, tratamento e suporte. O acesso a essas ferramentas é fundamental para mitigar o impacto do câncer na população”, afirma.
Entre as principais estratégias, o diagnóstico precoce por meio do rastreamento organizado tem se mostrado crucial, especialmente para o câncer de mama. Segundo as sociedades médicas, a mamografia é fundamental, sendo recomendada para mulheres a partir de 40 anos de idade anualmente. O rastreamento permite identificar a doença em estágios iniciais, aumentando as chances de cura e reduzindo potenciais sequelas do tratamento.
O acesso ao tratamento é fundamental para mitigar o impacto do câncer na população Foto: Getty Images
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico precoce pode levar a altas taxas de sobrevida nos casos de câncer de mama identificados em estágio inicial. No entanto, no Brasil, cerca de 40% dos casos ainda são diagnosticados em estágios avançados, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O papel da genética e da prevenção
Para cânceres ginecológicos como o de ovário e endométrio, a abordagem preventiva ganha contornos específicos, considerando que 25% dos casos de câncer de ovário têm origem hereditária. “A testagem genética de todas as pacientes com carcinoma epitelial tem grande potencial de identificar síndromes familiares e reduzir a incidência da doença na família que adotar as estratégias de redução de riscos em portadores de variantes patogênicas”, ressalta a especialista.
No caso do câncer de endométrio, a educação da população feminina é fundamental. “A principal informação que a mulher precisa ter conhecimento é que sangramentos na pós-menopausa podem ser um indício do problema e necessitam ser investigados”, alerta.
A adoção de hábitos saudáveis também emerge como elemento transformador na prevenção do câncer. Para evitar possíveis tumores de mama, recomenda-se a manutenção do peso adequado, prática regular de atividade física, amamentação e redução do consumo de álcool. Já no câncer de endométrio, a obesidade aparece como principal fator de risco modificável.
Estudos publicados na revista científica internacional Nutrients indicam que a adesão a hábitos de vida mais saudáveis pode reduzir entre 30% e 50% o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer. A prática regular de atividade física, por exemplo, está associada a uma redução de 20% no risco de câncer de mama, segundo análise publicada na revista Cancers.
Avanços no tratamento personalizado
Os últimos anos também trouxeram progressos significativos no tratamento. “Houve grandes avanços na identificação de subtipos moleculares de todos esses cânceres e a correta caracterização do diagnóstico permite hoje tratamentos ‘personalizados’, direcionados aos alvos expressos pela doença do paciente, com potencial de aumentar eficácia e reduzir toxicidade”, explica Angélica Nogueira.
Para casos em estágios avançados, a especialista destaca a importância da integração precoce de cuidados paliativos que podem melhorar significativamente a qualidade de vida e reduzir complicações incapacitantes.
A combinação de estratégias que envolvam educação, prevenção, diagnóstico precoce e acesso ao tratamento aparece como o caminho mais promissor para reduzir o impacto da doença no País. Entretanto, o cenário atual do controle do câncer no Brasil evidencia que, apesar dos avanços significativos em diagnóstico e tratamento, ainda há um longo caminho a percorrer.
Recentemente, a Lei 14.758/23, que institui a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), trouxe avanços importantes no acesso ao tratamento oncológico no Brasil. A legislação fortalece a necessidade de organização das redes de atenção e estabelece prazos máximos para início do tratamento. No entanto, especialistas ressaltam que é preciso combinar a lei com ações contínuas de prevenção.
“É fundamental combinar o acesso ao tratamento com ações contínuas de prevenção, como campanhas educativas, e ampliar políticas públicas de promoção da saúde”, enfatiza Angélica Nogueira. Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), programas integrados de prevenção e controle do câncer podem reduzir a mortalidade em até 30%.
A medicina de precisão está transformando o tratamento do câncer ao permitir terapias direcionadas para cada paciente. Entenda:
O que é tratamento personalizado?
É uma abordagem que considera as características moleculares específicas do tumor de cada pessoa, permitindo escolher o tratamento mais adequado para cada caso. Diferentemente da quimioterapia tradicional, que ataca todas as células que se multiplicam rapidamente, as terapias-alvo atuam especificamente nas células cancerosas que apresentam determinadas alterações moleculares.
Como funciona?
O processo começa com uma análise molecular detalhada do tumor, identificando mutações genéticas específicas e outros biomarcadores. Com base nesses resultados, os médicos podem selecionar medicamentos que têm maior probabilidade de eficácia para aquele perfil específico de tumor.
Principais benefícios
· Maior eficácia do tratamento
· Menor risco de efeitos colaterais
· Melhor qualidade de vida durante o tratamento
· Possibilidade de evitar tratamentos desnecessários
Avanços recentes:
· Identificação de novos alvos moleculares para cânceres de mama, ovário e endométrio
· Desenvolvimento de medicamentos específicos para diferentes subtipos de tumores
· Testes genéticos mais precisos e acessíveis
· Integração de inteligência artificial para análise de dados genômicos
Perspectivas futuras
A medicina personalizada continua evoluindo, com pesquisas focadas em novos biomarcadores, desenvolvimento de terapias inovadoras e aprimoramento das técnicas de diagnóstico molecular, prometendo tratamentos cada vez mais eficazes e menos tóxicos para as pacientes.