O presidente da Petz, Sérgio Zimerman, entende que a alta volatilidade das ações da varejista na bolsa reflete uma distorção de preços por parte de quem aposta na queda do papel. Mas também haveria, segundo ele, um movimento de “alinhamento” entre analistas que não querem discordar da posição majoritária do mercado sobre o papel.
“É claro que o fato de [o mercado] ter desacelerado faz com que a empresa tenha outro valor, mas não o valor que ela está. Diminuiu em 10 milhões o total de ações ‘vendidas’ [investidores apostando na queda do papel], para 75 milhões. Mas é uma enormidade isso e provoca uma distorção no preço simplesmente porque um grupo de investidores resolve apostar contra a ação e deprime o preço de uma maneira bem artificial”, diz.
“[Esse pessoal] está entre o Leblon e a Faria Lima”, diz, ao ser perguntado quem está “vendido” no papel. “[Em 2021], a ação estava em R$ 28, R$ 29, e você pega o relatório de todos os bancos, o preço-alvo era R$ 32, R$ 34, R$ 35. Então, a ação caiu para R$ 3 [neste ano] e vêm as revisões, com preços entre R$ 3,90 e R$ 4,20. Eu não entendo porque estão falando que o preço alvo era R$ 32 quando o faturamento estava em R$ 2,5 bilhões, e agora o faturamento está em R$ 4,2 bilhões, e não tem como a empresa valer dez vezes menos do que eles achavam”.
O empresário faz o mesmo raciocínio na posição contrária. Diz que há dois anos, os bancos falavam que a ação valia R$ 32. “Esse preço, para ser justo, também não estava no fundamento. Quando estava R$ 28, R$ 29 a ação, não tinha um banco que falava que a recomendação era venda ou manutenção, que o mercado estava exagerando. Todo mundo recomendava a compra.”
Segundo o empresário, há um fenômeno de “ninguém querer discordar para não ficar ruim com o investidor”, diz. “Então, quando um solta, todo mundo tenta ficar mais ou menos alinhado por que, se der erro, é erro coletivo. Acho que é assim. É difícil. É mais numa eventualidade do que uma situação estrutural.”
E quando começam as revisões dos analistas no papel, vai todo mundo junto na revisão. E as casas começam a sair de compra para manutenção.
No quarto trimestre, a rede fechou o período com alta de 4% nas vendas líquidas, e o lucro líquido caiu 22%. Em 2023, o lucro (não ajustado) consolidado caiu de R$ 50 milhões para R$ 16 milhões, e as vendas cresceram 12%. Bancos consideraram os resultados fracos, em especial por crescimento de receita e pelas margens pressionados.
Das 13 casas de análise citadas no site de relações com investidores da empresa, nove têm posição neutra e quatro orientam compra do papel. Zimerman não vê problema nesses movimentos em ondas, mas critica o fato de isso ocorrer sem motivos relevantes no fundamento da companhia.
Documentos encaminhados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que Zimerman aumentou sua posição na empresa neste ano. Passou, em fevereiro, de 42,9%, incluindo ações e operações em derivativos, para 48%, no fim de março — sendo 29% em ações e mais 19% em operações de derivativos (referenciados em ON).
Apesar da desaceleração do segmento no país há meses, e da Petz, o empresário vê um efeito de base forte de comparação, já que o setor cresceu fortemente nos anos após a pandemia, e depois disso “devolveu” menos que outros setores, mesmo com a base forte. De 2019 a 2023, o crescimento médio anual do segmento foi de 20%, e a Petz avançou 35%.
“Ou seja, crescemos muito, mas é o que o mercado fala que nós estamos andando de lado, não cresce mais, não sei o quê. O problema é que quando a curva sobe ano a ano, o pessoal projeta por infinito o crescimento. E aí vêm aquelas avaliações que começam a se descolar da realidade. E, quando ele lateraliza, o mercado está perpetuando essa lateralização e a distorção do valor da companhia.”
Uma das razões para comprar as ações, diz, é porque discorda frontalmente dessa visão de que “se o negócio aponta para cima, isso vai ser definitivo, ou que o negócio lateraliza também vai ser definitivo”.
A partir do segundo semestre, prevê, a situação vai começar a voltar a um ritmo de 2019 — e baseia suas análises otimistas no crescimento populacional, com mais pessoas incluindo o pet na família, a humanização dos bichos de estimação e o aumento na quantidade de informação circulando na sociedade.
“Quanto mais informação as pessoas têm, mais elas consomem, porque querem dar o melhor com o animal de estimação”, diz.