O presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou nesta quinta-feira à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que o projeto de acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul era “inaceitável”, segundo afirmou seu gabinete.
Pouco antes, a presidente da Comissão Europeia havia afirmado que “o objetivo do acordo UE-Mercosul já está ao alcance”, em uma mensagem também no X. “Trabalhemos, cruzemos a linha de chegada. Temos a oportunidade de criar um mercado de 700 milhões de pessoas”, acrescentou.
O tratado, discutido pelos 27 países da UE e pelos membros fundadores do Mercado Comum do Sul — Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai –, criaria a maior zona de livre comércio do mundo. As negociações, paralisadas após um acordo de princípio alcançado em 2019, foram retomadas nos últimos meses com o impulso da Comissão Europeia, que define a política comercial de toda a União Europeia. Lula: Presidente viaja hoje para reunião do Mercosul no Uruguai com perspectiva de acordo com União Europeia O texto prevê a eliminação de grande parte das tarifas entre as duas regiões, que somam mais de 700 milhões de consumidores e um PIB combinado de US$ 21,3 trilhões.
O presidente francês é apontado como o principal obstáculo para o avanço do acordo, já que sofre forte pressão de agricultores em seu país. Na semana passada, houve vários protestos da categoria na França contra o acordo e a possível concorrência com produtos agrícolas do Brasil e da Argentina, principalmente.
Os sindicatos agropecuários da UE rejeitam o acordo porque a produção dos países do Mercosul não está sujeita aos mesmos requisitos ambientais e sociais, nem às mesmas normas sanitárias, que a do bloco europeu.
No intervalo das atividades do G20, no Rio de Janeiro, em novembro, Macron afirmou que a França” não está isolada” em sua oposição ao estado atual do acordo comercial UE-Mercosul. Um de seus argumentos é que o texto, “por ter sido negociado há muitas décadas, baseia-se em condições prévias que estão desatualizadas”.
A crise política no país aumentou as dúvidas sobre a decisão política que, finalmente, tomará Van der Leyen.
A dúvida é se a França conseguiria o apoio de um grupo grande de países, além de Polônia e Hungria, alguns dos que estão do lado de Emmanuel Macron. A decisão de viajar de Van de Leyen indicaria que, por um lado, a França de Macron não conseguiu muitos aliados em sua ofensiva contra o acordo e, por outro, que o medo de fortalecer a extrema direita europeia — crítica do acordo — anunciando o entendimento nas atuais circunstâncias pesou menos do que o desejo de aproveitar o que os diplomatas chamam de “janela de oportunidade”. Para várias das fontes consultadas, “o Mercosul e a UE nunca estiveram tão perto de selar o acordo, e provavelmente nunca estarão”.